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Os Estaleiros da Lisnave

Fundada em 1938, sob a denominação de Companhia União Fabril (CUF), pelo industrial José Manuel de Mello. A empresa começou por se dedicar à construção naval, tendo construído o seu primeiro navio em 1940. Em 1957, a CUF mudou de nome para Lisnave – Estaleiros Navais de Lisboa e iniciou a atividade de reparação naval, aproveitando a sua localização estratégica na foz do Tejo.

Em 1967, a Lisnave inaugurou o seu novo estaleiro na Margueira, em Almada, um complexo industrial com uma extensão de 45 hectares, equipado com as mais modernas tecnologias e infraestruturas.

O estaleiro tinha a maior doca seca do mundo, com capacidade para atracar navios de até um milhão de toneladas, mas também um gigantesco pórtico vermelho, capaz de içar mais de 300 toneladas.

A transformação de uma cidade

A Lisnave tornou-se assim uma referência mundial na construção e reparação naval, atraindo clientes de todo o mundo.

Contribuiu ainda para transformar a cidade de Almada, que viu a sua população aumentar significativamente entre as décadas de 60 e 70, com a chegada de milhares de trabalhadores e suas famílias.

Gerou uma dinâmica económica e social na cidade, dinamizando o comércio, os serviços, a cultura e o desporto.

Apoiou ainda várias iniciativas locais, como o Clube Desportivo CUF, o Centro Cultural CUF e o Museu Naval.

O declínio dos estaleiros da Lisnave

A Revolução de abril de 1974 abriu uma nova era na Lisnave, que passou por um processo de nacionalização e reestruturação.

Os trabalhadores da empresa lideraram várias lutas por melhores condições de trabalho, salários, horários e segurança.

Foi um símbolo da resistência operária, tendo sido palco de assembleias populares, como também de comícios e greves.

No entanto, a partir dos anos 80, a Lisnave começou a enfrentar uma série de dificuldades, decorrentes da crise internacional do setor naval, da concorrência dos países asiáticos, da desvalorização do dólar e da falta de investimento público.

A empresa entrou num processo de reprivatização, bem como de redução de pessoal, que culminou com o encerramento do estaleiro da Margueira no final de 2000.

O encerramento da Lisnave em Almada deixou um vazio na paisagem e na memória da cidade, que ainda hoje se faz sentir.

O terreno abandonado do estaleiro continua a esperar um projeto de requalificação urbana que respeite o património histórico e cultural da empresa.

A Câmara Municipal de Almada tem defendido a criação da Cidade da Água, um polo de desenvolvimento sustentável com habitação, comércio, serviços, lazer e cultura.

O projeto já recebeu luz verde do Governo em 2020, mas ainda não tem data prevista para arrancar.

Até lá, a memória da Lisnave continua a ser preservada pelos antigos trabalhadores e pela população de Almada.

A Lisnave em Almada era mais do que uma empresa: era uma escola, uma família, uma comunidade. Foi um exemplo de trabalho, de luta, de solidariedade, de criatividade. Faz parte da história de Portugal e do mundo.

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