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A Fronteira (Raia)

A fronteira (Raia) entre Portugal e Espanha é uma das mais antigas e extensas da Europa, com cerca de 1.200 quilómetros de extensão. Ao longo da sua história, esta fronteira tem sido palco de conflitos, tratados, contrabando, migrações e cooperação entre os dois países ibéricos.

Exploraremos alguns dos aspetos mais interessantes e curiosos da via fronteiriça, desde a sua origem até agora. Vamos ficar a conhecer alguns dos monumentos, paisagens, tradições e lendas que marcam esta zona tão rica em cultura e diversidade.

A origem da raia

A linha fronteiriça entre Portugal e Espanha tem a sua origem no século XII, quando o reino de Portugal tornou-se independente do reino de Leão, após a Batalha de São Mamede em 1128. No entanto, a definição exata dos limites territoriais só foi estabelecida em 1297, com a assinatura do Tratado de Alcanizes, entre D. Dinis e D. Fernando IV de Castela.

Este tratado fixou as linhas principais da fronteira, que permanecem praticamente inalteradas até hoje, com exceção de algumas retificações ocasionais ao longo dos séculos. O Tratado de Alcanizes também reconheceu a soberania portuguesa sobre alguns locais estratégicos, como Olivença, Campo Maior, Ouguela e Castelo Rodrigo.

Fortificada com um conjunto de castelos, muralhas e fortalezas, que serviram para defender o território nacional das invasões espanholas. Alguns dos exemplos mais emblemáticos são o Castelo de Marvão, o Castelo de Almeida, o Castelo de Monsanto e o Castelo de Montalegre.

Também foi marcada pela construção de pontes, que facilitaram a comunicação e o comércio entre as duas margens do rio. Algumas das pontes mais antigas e notáveis são a Ponte da Ajuda, a Ponte de Alcântara, a Ponte de Chaves e a Ponte Internacional do Guadiana.

A vida na Fronteira(Raia)

A fronteira fronteiriça sempre foi uma zona de intensa atividade económica e social, mas também de grande isolamento e pobreza. Como resultado, 0s habitantes desta região desenvolveram modos de vida adaptados às condições geográficas e históricas, criando a sua própria identidade única.

Por exemplo, uma das atividades mais características da raia era o contrabando, que consistia na passagem clandestina de mercadorias entre os dois países, aproveitando as áreas menos vigiadas da fronteira. Praticado por homens e mulheres, que arriscavam a vida para obter lucro ou satisfazer as suas necessidades básicas.

O contrabando teve o seu apogeu durante o século XX, especialmente durante a ditadura franquista em Espanha e a ditadura salazarista em Portugal. Os produtos mais contrabandeados foram o café, o açúcar, o tabaco, o azeite, o gado, as armas e as moedas.

O contrabando deixou um legado cultural na pista, que se reflete na língua, na música, na literatura e no cinema. Algumas das expressões típicas da raia são “go à la frontera”, “take a walk” ou “take a leap”. Algumas das canções mais populares são “O Contrabandista”, “A Moda da Mula Preta” ou “As Sete Mulheres do Minho”. Das obras literárias mais conhecidas são: “O Contrabando”, de Miguel Torga, “Os Contrabandistas”, de Aquilino Ribeiro, ou “A Raia dos Medos”, de Nuno de Montemor. Alguns dos filmes mais famosos são “Raia Seca”, de António Campos, “El Lute”, de Vicente Aranda, ou “Contrabando”, de Leonel Vieira.

A raia também foi palco de movimentos migratórios, tanto internos quanto externos. Muitos habitantes da faixa emigraram para outros países, especialmente França, Alemanha e Suíça, em busca de melhores condições de vida. Outros mudaram-se para as grandes cidades portuguesas ou espanholas, a procurar mais oportunidades de emprego e educação.

A raia hoje

A fronteira fronteiriça entre Portugal e Espanha vive atualmente um momento de mudança e abertura, em resultado da integração dos dois países na União Europeia e do desenvolvimento de infraestruturas e serviços. Atualmente deixou de ser uma barreira física e política para se tornar uma zona de cooperação e intercâmbio.

Beneficia de vários programas e projetos transfronteiriços destinados a promover o desenvolvimento económico, social, cultural e ambiental da região. De fato, alguns dos exemplos mais relevantes são a Euro cidade Chaves-Verín, a Euro cidade Elvas-Badajoz, o Parque Natural do Douro Internacional, o Parque Natural do Tejo Internacional ou o Parque Natural da Serra da Estrela.

Também é um destino turístico de grande interesse e potencial, oferecendo aos visitantes uma variedade de atrações e experiências. A pista é um lugar ideal para desfrutar da natureza, gastronomia, património, história e tradições desta área única e fascinante.

A raia é, sem dúvida, uma fronteira viva, que une e diferencia dois países irmãos, que partilham uma história comum, mas que conservam as suas singularidades. É um lugar de encontro e contraste, de memória e de futuro, de desafio e oportunidade.

Liliana Lopes

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Liliana Lopes

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